Dizes-me: tu és mais alguma cousa
Que uma pedra ou uma planta.
Dizes-me: sentes, pensas e sabes
Que pensas e sentes.
Então as pedras escrevem versos?
Então as plantas têm ideias sobre o mundo?
Sim: há diferença.
Mas não é a diferença que encontras;
Porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as cousas:
Só me obriga a ser consciente.
Se sou mais que uma pedra ou uma planta? Não sei.
Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos.
Ter consciência é mais que ter cor?
Pode ser e pode não ser.
Sei que é diferente apenas.
Ninguém pode provar que é mais que só diferente.
Sei que a pedra é a real, e que a planta existe.
Sei isto porque elas existem.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram.
Sei que sou real também.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram,
Embora com menos clareza que me mostram a pedra e a planta.
Não sei mais nada.
Sim, escrevo versos, e a pedra não escreve versos.
Sim, faço ideias sobre o mundo, e a planta nenhumas.
Mas é que as pedras não são poetas, são pedras;
E as plantas são plantas só, e não pensadores.
Tanto posso dizer que sou superior a elas por isto,
Como que sou inferior.
Mas não digo isso: digo da pedra, "é uma pedra",
Digo da planta, "é uma planta",
Digo de mim, "sou eu".
E não digo mais nada. Que mais há a dizer?
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Sábio é o que se contenta com o espectáculo do mundo,
E ao beber nem recorda
Que já bebeu na vida,
Para quem tudo é novo
E imarcescível sempre.
Coroem-no pâmpanos, ou heras, ou rosas volúteis,
Ele sabe que a vida
Passa por ele e tanto
Corta à flor como a ele
De Átropos a tesoura.
Mas ele sabe fazer que a cor do vinho esconda isto,
Que o seu sabor orgíaco
Apague o gosto às horas,
Como a uma voz chorando
O passar das bacantes.
E ele espera, contente quase e bebedor tranquilo,
E apenas desejando
Num desejo mal tido
Que a abominável onda
O não molhe tão cedo.
Ricardo Reis
Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer...
Não sabia que caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.
Assim tem sido sempre a minha vida, e
Assim quero que possa ser sempre
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto Pensar.
Alberto Caeiro
Quem não leu, quando andava no 5º ou 6º ano, o livro "Romance da Raposa" do Aquilino Ribeiro? Porventura, alguns, já não se lembrarão da personagem principal: a raposa Salta-Pocinhas, a aventureira... que com os erros e diversas peripécias ia apre(e)ndendo e compreendendo o mundo à sua volta.
Esta imagem lembra essa doce personagem, ó tempo não vás embora!
Simplesmente magnífica.
As raposas... que hei-de dizer? São animais fantásticos, porém em via de extinção. É pena, porque sem elas a natureza perde o seu equilíbrio e, sem dúvida, algum do seu encanto. Pois todos os animais desde os ratos até ao "bicho" Homem, têm um papel a desempenhar neste nosso planeta. As raposas não são diferentes. Como tal deveriam persistir, neste mundo em constante mudança. As pessoas acham que são animais matreiros e manhosos, mas será só isso? Não me parece. São também airosas, com olhar profundo e penetrante, com porte nobre e vistoso, sem dúvida admirável. Em suma, são os meus animais preferidos ou... não fosse eu uma! (só que apenas um pouco mais humana!!!).
Fiquem bem,
Raposa.
Estive agora a por links no blog de sites muito fixes, que espero, sejam do agrado de todos.
O primeiro link leva-nos à descoberta das Terras de Miranda, que escondidas entre os montes do norte de Portugal guardam uma beleza e um encanto que a todos deliciam. Deixem-se levar e enfeitiçar...
Depois, está o site da Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino (AEPGA), que tão bem cuida e divulga a raça asinina autóctene desta Terra: o burro mirandês. É um site para ver e rever.
Por último, temos um site de poemas em que se encontra um autêntico catálogo da poesia portuguesa, em que se encontram praticamente todos os autores, bem como boa parte dos seus poemas. Puro deleito, sem ter passar horas a fio à procura dos livros nas prateleiras!!!...
Vão, vejam... mas voltem!
Era um jardim florido, florido,
Garrido, garrido,
Colorido, colorido,
Era um jardim florido, florido.
Era um jardim muito florido,
Com muitas flores
De muitas cores,
De muitos feitios.
Havia tantas flores,
Tão bonitas e tão coloridas,
Que quem lá entrava
Ficava pasmado de tanta beleza.
Beleza, beleza
Para dar e vender,
Era o que não faltava
Naquele jardim florido, florido.
Sara Isabel Raposo
Por entre essas flores, por entre essas cores, no meio desse mundo encantado, pleno feitiço da Natureza, onde nos perdemos e nos deixamos perder, vivem escondidas do mundo, no seu estado mais puro... seres matreiros, airosos e de nobre porte: as raposas.